Sempre ouvimos essa frase, e a repetimos como um lema. O futebol vai muito além do campo e bola, eu adoro deixar isso bem claro para todo mundo.
Todas as vezes que me perguntam: “Nossa, como consegue ficar o dia inteiro assistindo um jogo atrás do outro? Não cansa? Tem vezes que você nem sabe quem está jogando…” Eu sempre retruco dizendo que o futebol é mágico, é lindo, proporciona momentos que nenhum outro esporte é capaz de fazer. O gol da virada no último segundo, o pênalti defendido, o lance épico do craque, ou mesmo daquele jogador que ninguém nunca esperou. Eu amo o futebol! AMO!
Acima de tudo eu amo a Ponte Preta, afinal, minha paixão pelo futebol nasceu nos alambrados e arquibancadas de concreto do Majestoso. Vendo a Nega Véia em campo, vendo Piá, Washington, Adrianinho, Aranha, Macedo, Elivelton, Mineiro, Fabinho, Fábio Luciano, Ronaldão, e tantos outros. Lances apaixonantes como o gol do empate, contra o Flamengo, no cabeceio do Lauro, os 3 gols do Gigena no Dérbi, a partida quase perfeita do Jefferson na semi do Paulista, a falta do Felipe Bastos contra o Lanús, tantos e tantos lances que me levaram aos céus, entre lágrimas de alegria, e o grito solto da garganta. Não tem como passar impassível pelo futebol, é coisa de maluco, coisa de outro mundo, uma emoção que quase nada consegue repetir.
Sou um intrépido defensor do futebol, quando tentam diminuí-lo dizendo que é só negócio, que ninguém liga para sua torcida, que jogador só quer saber de dinheiro e etc. Mas me encontro em uma encruzilhada neste momento, não estou sendo capaz de defender aquilo que amo, sentimentos mistos, tanta coisa acontecendo ao redor daquilo que sempre foi motivo de alegria, refúgio do sofrimento, e os agentes que moviam e movem minha paixão, fingindo que não são parte daquilo.
Como eu ainda posso defender minha paixão, se eu vejo tudo ruindo ao meu redor? Como posso defender minha paixão, se meu time, o amor da minha vida, não valoriza a vida dos outros pontepretanos? Como defender se o esporte que me emociona, vira a cara para os milhares de outros apaixonados que estão sofrendo com tudo isso?
Estamos vivendo uma realidade paralela, o mundo está em pandemônio devido a uma pandemia, estamos hoje no país que se tornou o epicentro de tudo isso, milhares de pessoas perdem a vida diariamente, o futebol tem equipes e mais equipes vitimadas por essa doença, e muitas pessoas ligadas direta ou indiretamente ao futebol perderam suas vidas. Não existe outra maneira de ver tudo isso, o que vivemos é um estado de calamidade. E entenda, eu não estou falando de escolha política ou partidária, estou falando de números, e números que representam vidas.
Em meio a tudo isso, na pior fase da pandemia no Brasil, em que recordes de contaminação e óbitos são batidos diariamente, a CBF e a FPF, se acham mais importantes e relevantes do que cada uma das mais de 284 mil vidas perdidas, e querem continuar com os campeonatos como se o futebol acontecesse em um outro universo, e nesse lugar não existisse nada disso que foi falado.
É algo ultrajante, alegar que o “protocolo” utilizado é impecável, que o futebol é exemplo para a sociedade, e pior ainda, dizer que o futebol é um meio de manter as pessoas em casa no Lockdown. Como se o jogador fosse um robô, uma máquina, que está alheio a tudo que acontece, como se para fazer 1 jogo, só precisasse dos 11 de cada lado, não tem técnico, comissão, roupeiro, maqueiro, massagista, tia da cantina, e tantas outras pessoas, e suas famílias que são necessárias para a bola rolar.
Está difícil defender a minha paixão, que já foi usada de maneira errada tantas vezes, e de maneiras tão absurdas, mas nunca de uma maneira tão vexatória como agora.
E pra você que fala: “ A mas é só futebol, não sei porque tudo isso.” Eu te falo: Não é só futebol! Nunca foi e nem nunca será só futebol!