A PRIMEIRA SÓCIA TORCEDORA

A história de Sueli Gramari, a sócia número 1 da Ponte Preta
Por Felipe Camargo
Publicado em 16/08/2021 - 18:24

Todo dia, ainda no século 21, o pontepretano é atingido por uma enxurrada de tentativas de diminuir a instituição que ele torce, e dedica boa parte de sua vida. São coisas como: Time virgem, sem título, torcida minúscula, time sem expressão e por aí vai. Até aí, o pontepretano pouco se importa, até porque ninguém sabe a grandeza da Ponte Preta como o seu torcedor. Grandeza que se inicia pela sua própria torcida.


Desde sua fundação, a Ponte Preta, sempre esteve a contramão da sociedade, é um time oriundo das raízes operárias da cidade, fundado por trabalhadores das ferrovias, e nasceu num dos bairros mais humildes em sua época, longe do centro, no sentido oposto ao que os clubes da época, e os que vieram depois, sempre procuraram. Não à toa, desde seu surgimento a Ponte Preta sempre foi oprimida, perseguida e rechaçada pela sociedade.


Tal fato, poderia por fim a qualquer história, e talvez nós hoje não teríamos a nossa Nega Véia para torcer. Mas não aqui, não com a Ponte Preta, foi a partir daí que a Ponte se dispôs a comprar essa briga, ser o time dos oprimidos e desfavorecidos, representante das classes mais baixas, e dos que a sociedade tentava marginalizar.


Esse, é sem dúvidas, o maior legado que o torcedor pontepretano faz questão de carregar e defender. Até os dias de hoje, o clube sempre se coloca a frente na luta pelos direitos humanos, a eterna batalha contra o racismo, a homofobia, o elitismo, o classicismo, o capacitismo e por aí vai. O pontepretano sabe que seu time é muito mais que somente o campo e bola, sabe que é uma instituição centenária, que carrega em suas entranhas o cerne do povo brasileiro, e que tem por obrigação sempre se manter em pé. Afinal, se esse pilar enfraquecer, ou ceder, dará espaço para aqueles que não prezam pelo bem comum tomarem seu espaço.


Lembrei disso, por saber da história da PRIMEIRA SÓCIA TC10 (na época chamava-se apenas Sócio Torcedor). A Ponte tem tradição de grandes pontepretanas, tivemos Dona Anna, Conceição, Dalva, Dulce dentre outras. E esse é o caso de mais uma dessas, D. Sueli Gramari, a sócia torcedora nº:1 da Ponte Preta. Com sequelas da poliomielite, que contraiu aos 3 anos de vida, D. Sueli é portadora de deficiência física, e tinha limitações de movimento. Mas isso nunca a impediu de seguir o seu time de coração, sempre junto dos irmãos Fernando, Sérgio e Edna.


Por volta de 2008, quando a Ponte lançou seu programa de sócio torcedor, Sueli não perdeu tempo, e foi até o Majestoso garantir sua carteirinha. Porém, chegou muito cedo, e ainda não estava aberto para cadastro, mas nada iria impedir Sueli de acompanhar seu time, nunca foi parada antes, não seria agora. Conversaram com todo mundo, tentaram, até que por fim, conseguiram a liberação para o seu cadastro. 


E assim, D. Sueli Gramari, se tornou a Sócia Torcedora nº: 1 da Ponte Preta. Mantendo e ampliando a história de tradição inclusiva da Associação Atlética Ponte Preta, fundada por operários, primeiro time a ter negros entre os atletas, time que sempre abraçou as mulheres como seus maiores símbolos, e também as pessoas com deficiência.


Um exemplo que todos insistem em tentar apagar, mas deveriam tentar seguir. Ponte Preta sempre foi e será para todos e de todos!


Sueli Gramari (ao centro) com Fernando Gramari e Fernando Rodrigues (a esq.), e Douglas Arruda, Nivaldo Passagnolo, Giuliano Dimarzio, Gustavo, Roberto e Wiil